terça-feira, 16 de dezembro de 2008

manual para se subir no topo de um edifício em Porto Alegre

1. Encontre um prédio, podendo este, inclusive, ser o prédio da sua residência.

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2. Para a apreciação de um ângulo maior do horizonte, bem como para evitar observadores indesejados, dê preferência a prédios que excedam, em altura, construções vizinhas.

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3. Uma vez que se tenha o prédio, é necessário ter acesso aos seus elevadores e escadas, o que ocorre mais facilmente quando se trata de um edifício comercial de qualquer tipo, ou residencial, no caso de já se ter a confiança do porteiro. Em boa parte dos prédios, saídas de incêndio escondem escadarias que atravessam todos os pisos, chegando, inclusive, mais alto do que o elevador, onde, quase sempre, há somente mais uma porta antes do destino final, o topo.

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4. Caso se tenha optado pelo elevador, o mesmo deve subir, devendo-se nele subir antes, chegando, inexoravelmente, a uma altitude não-maior do que a do último andar. Deve ser encontrada, então, uma saída de incêndio, que quase sempre leva a mais uma escada, sempre subindo, e, finalmente, a uma porta.

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5. Da porta trancada, surgem três possibilidades:  

a) Tentar abrir a porta, seja pelo uso da força, pela aplicação de conhecimentos mecânicos, ou através de um estreitamento de laços com o porteiro, o provável detentor da chave. 

b) Procurar por outro prédio. 

c) Desistir.

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6. Com a porta estando destrancada, é preciso segurar a maçaneta, girar e empurrar.

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7. É importante lembrar que a discrição é fundamental, que devido a trágicos desígnios arquitetônicos alguns prédios parecem não ter um acesso possível aos seus respectivos topos, e que muitas vezes é necessário passar por variáveis imprevistas, como escadas verticais, lugares sujos, escuros e esquecidos, além de situações potencialmente perigosas, sendo imperativo manter sempre o bom senso.

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8. Uma vez se chegando ao ponto máximo, é interessante olhar para o cima, para a cidade e onde ela termina, para o horizonte. O pôr e o nascer do sol são momentos especialmente bonitos. É interessante, também, olhar para as pessoas na rua, ou para as pessoas dentro dos outros prédios. É incrível não ser visto. Caso uma pessoa, ou mais, tenha acompanhado o processo, nesse momento é possível, ainda que não seja necessário, conversar. É bom, estando suspenso, contemplar a beleza poluída da cidade. É libertador estar somente na companhia dos pássaros. 

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9. Finalmente, torna-se mais e mais concreta, ainda que seja difícil de colocar em palavras, a razão pela qual, na amarelinha - pelo amor de deus, o jogo, não o livro - as crianças pulam todos aqueles quadrados, até chegarem no céu.

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